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02 outubro 2006

PENSE - Credo Político (0610-002)

Meu País conhece o meu credo político, porque o meu credo político está na minha vida inteira.
  • Creio na liberdade onipotente, criadora das nações robustas;
  • creio na lei, emanação dela , o seu órgão capital, a primeira das suas necessidades;
  • creio que, neste regímen, não há poderes soberanos, e soberano é só o direito, interpretado pelos tribunais;
  • creio que a própria soberania popular necessita de limites, e que esses limites vêm a ser as suas Constituições, por ela mesma criadas, nas suas horas de inspiração jurídica, em garantia contra os seus impulsos de paixão desordenada;
  • creio que a República decai, porque se deixou estragar confiando-se ao regímen da força;
  • creio que a Federação perecerá, se continuar a não saber acatar e elevar a justiça; porque da justiça nasce a confiança, da confiança a tranqüilidade, da tranqüilidade o trabalho, do trabalho a produção, da produção o crédito, do crédito a opulência, da opulência a respeitabilidade, a duração, o vigor;
  • creio no governo do povo pelo povo;
  • creio, porém, que o governo do povo pelo povo tem a base da sua legitimidade na cultura da inteligência nacional pelo desenvolvimento nacional do ensino, para o qual as maiores liberalidades do tesouro constituíram sempre o mais reprodutivo emprego da riqueza pública;
  • creio na tribuna sem fúrias e na imprensa sem restrições, porque creio no poder da razão e da verdade;
  • creio na moderação e na tolerância, no progresso e na tradição, no respeito e na disciplina, na impotência fatal dos incompetentes e no valor insuprível das capacidades.
  • Rejeito as doutrinas de arbítrio;
  • abomino as ditaduras de todo o gênero, militares ou científicas, coroadas ou populares;
  • detesto os estados de sítio, as suspensões de garantias, as razões de Estado, as leis de salvação pública;
  • odeio as combinações hipócritas do absolutismo dissimulado sob as formas democráticas e republicanas;
  • oponho-me aos governos de seita, aos governos de facção, aos governos de ignorância; e, quando esta se traduz pela abolição geral das grandes instituições docentes, isto é, pela hostilidade radical à inteligência do País nos focos mais altos da sua cultura, a estúpida selvageria dessa fórmula admin istrativa impressiona-me como o bramir de um oceano de barbaria ameaçando as fronteiras de nossa nacionalidade.

Crédito: Obras Completas de Rui Barbosa , Vol. XXIII, 1896, tomo V, p. 37-38

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